Por que nós dormimos?: a nova ciência do sono e do sonho, Mattew Walker
Quando adoecemos, buscamos a causa da doença na genética; nos maus hábitos de vida, como beber ou fumar; na alimentação de má qualidade, com a ingestão exagerada de gorduras, de açúcares e de sal; no estresse do trabalho e em muitos outros motivos. No entanto, quase nunca nos lembramos de uma causa que nos parece, à primeira vista, improvável: a privação de sono. Há uma verdade que a maioria de nós desconhece: porque dormimos mal, adoecemos. Essa é tese defendida pelo autor, o cientista e pesquisador do sono, Mattew Walker. Todo ser vivo dorme, sem exceção. Por que a natureza nos obriga a isso? Para buscar essa resposta e nos explicar, de forma clara, objetiva e acessível por que dormimos, o autor nos leva através de uma longa viagem sobre o conhecimento do sono. O cérebro precisa de uma forma peremptória do descanso do sono para nos manter saudáveis. Durante o sono, recuperamos não só a saúde de nossas células cerebrais, mas também a saúde de todo o sistema nervoso que nos mantém vivos. E para executar bem sua função, nosso cérebro necessita de, pelo menos, sete horas diárias de sono. A privação de sono e também a pouca quantidade diária de sono causam transtornos tremendos em nosso organismo e adoecemos: prejudicam nosso raciocínio e nossa criatividade; provocam doenças como câncer, diabetes, deficiências cardíacas e muitas outras. Mas não é só isso: a privação de sono causa prejuízos na economia, quando milhões de funcionários trabalham sonolentos e sem produtividade; quando provoca acidentes e mortes no trânsito; quando profissionais da saúde atendem seus pacientes depois de uma noite de pouco sono e erram diagnósticos, provocando até a morte; quando as crianças e os jovens acordam cedo, privados do sono matutino, e vão para a escola e, por causa disso, seu desempenho de aprendizagem fica prejudicado. Enfatizo o que diz o autor sobre mortes no trânsito: uma pessoa embriagada tem seus reflexos prejudicados, mas ainda tem algum reflexo; um motorista que dorme ao volante não tem reflexo algum e bastam alguns segundos de sono, que paralisa todo o seu corpo, para que um veículo a 100 quilômetros por hora, por exemplo, cause um acidente de gravíssimas consequências. No entanto, há inúmeras campanhas contra a embriaguez ao volante e nenhuma contra a privação de sono de inúmeros motoristas que estão rodando por nossas estradas e provocando acidentes terríveis. Enfim, há uma lista interminável de mazelas que a privação de sono tem causado à humanidade, principalmente a partir da revolução industrial e especialmente ao longo do século XX, quando se afirma que há uma epidemia de insônia nos países ditos civilizados. Ao final, o autor propõe uma série de medidas que poderiam mitigar os males da privação de sono em termos sociais, econômicos e pessoais. Talvez você, leitor, possa tirar algum proveito dessas recomendações – que, no terreno do pessoal, são excelentes – mas me permito discordar um tanto da premissa de que a melhora nas condições de sono de milhões de pessoas possa alterar profundamente o rumo das mazelas provocadas pela privação de sono, já que a causa maior de todas elas está intimamente relacionada ao capitalismo predador e insensível, que mói as mentes e os corpos de todos nós, de forma implacável, com o único intuito de obter lucros. De qualquer modo, se você dorme menos de sete horas por dia, leia, leia sim, esse livro e tenha pesadelos ou até mais noites insones, se não mudar radicalmente seu estilo de vida em relação à percepção de que a privação de sono e a quantidade diária insuficiente de um bom sono, de um sono de qualidade, estão na origem de muitos de nossos males. Ah, sim, uma última advertência (de tantas que estão no livro) que o autor nos traz: não tome pílulas ou remédios para dormir, que isso agrava ainda mais a qualidade do sono, além de serem inúteis, já que eles – todos esses medicamentos – causam apenas sedação (que não é sono) e dependência. Enfim, um livro que deveria ser leitura obrigatória de nossos governantes (e de todos nós), para que tomassem medidas sanitárias contra a ideia corrente de que se pode viver bem com menos de sete horas de sono por noite. E não tive tempo, nessa breve resenha, de comentar o que diz o autor sobre os sonhos. Mas, leia o livro. Leia.
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