Admirável mundo novo, Aldous Huxley
A distopia de Huxley nos remete a um estado totalitário capitalista onde o bem maior é a felicidade. Mas felicidade construída à custa de produtos químicos, o soma, que todos são praticamente obrigados a tomar em doses diárias, para continuar a viver numa sociedade de comportamentos condicionados desde a proveta onde são concebidos, já que nascimentos naturais estão proibidos, assim como os conceitos de família, monogamia, paixão, privacidade e pensamento criativo. Pai e mãe, deuses e religião são conceitos históricos e, quando evocados, merecem apenas a chacota, o riso. Noções de higiene são a lei e ninguém é de ninguém: todos se relacionam sexualmente com todos, numa espécie de orgia permanente e controlada, já que relacionamentos duradouros são considerados anormais e, portanto, proibidos, sujeitando os infratores a penas de exílio. As palavras de ordem dos comportamentos sociais são repetidas milhares de vezes, para que todos os indivíduos, homens e mulheres, não consigam sair do controle. E mais: a sociedade está dividida, desde os embriões, em castas, para que os indivíduos alfa, a elite, possam se manter no poder e os demais apenas cumpram ordens e, mesmo executando as tarefas mais repetitivas e miseráveis, continuem se sentindo felizes com o que fazem, graças ao soma. Nessa sociedade, um indivíduo, no entanto, não se conforma às regras: Bernard Max quer se libertar e, para tentar descobrir a origem desse sentimento de liberdade, obtém licença para visitar uma colônia de selvagens, onde os seres humanos vivem de forma “primitiva” e não de acordo com a “civilização”. Este o eixo central do romance: a tentativa do indivíduo de buscar a liberdade numa sociedade que encara o igualitarismo como escravidão. Uma crítica ao “fordismo”, já que essa história se passa no ano 634 d.F. (depois de Ford), e aos governos totalitários dominados pelo capitalismo, que enxergam o ser humano apenas como uma peça na engrenagem social, mantendo a todos, mesmo as classes privilegiadas, como escravos de um bem-estar social falacioso e escravagista. Publicado em 1932, ainda hoje provoca discussões, pela complexidade dos conceitos que o
autor traz em sua narrativa.