terça-feira, 14 de outubro de 2025

Uma história natural da curiosidade, Alberto Manguel

 



Uma história natural da curiosidade, Alberto Manguel


Para percorrer o Inferno, o Purgatório e o Paraíso, Dante é guiado pelo poeta Virgílio, nos dois primeiros, e por sua amada Beatriz, no último. Para escrever “Uma história natural da curiosidade”, Alberto Manguel toma como guia o próprio Dante e, através de inúmeras passagens de “A Divina Comédia”, leva-nos a uma longa viagem através de perguntas que ele procura responder não só através do poema, mas também através de inúmeras leituras que ele fez ao longo da vida, sendo ele um grande leitor, rodeado sempre de livros, dono de uma biblioteca de 30 mil livros, em sua casa na França, e como dirigente atual da Biblioteca Nacional da Argentina, cargo anteriormente ocupado por Jorge Luis Borges. O escritor argentino, a par de sua imensa cultura e erudição, teve a oportunidade de viver em vários países e percorrer outros tantos, o que ele nos conta na introdução de cada um dos 17 capítulos. Essa viagem através da cultura, que ele nos convida a fazer, tendo o grande poema da língua italiana como guia, organiza-se em torno de 17 questões cujas respostas são complexas e nunca óbvias, dentre elas: “O que é curiosidade?”, “Como raciocinamos?”, “O que é linguagem?”, “Quem sou eu?”, “O que é a verdade?” etc. Não há lugar para o tédio, nessa viagem fantástica pelo conhecimento, pois o raciocínio arguto do autor, as histórias que ele conta, as referências que ele nos traz de inúmeros autores mantêm-nos atentos a cada palavra, a cada frase, a cada parágrafo desse livro que nos desafia o tempo todo. Praticamente todas as grandes épocas culturais da humanidade são contempladas, desde os filósofos gregos até autores contemporâneos, mas isso não é, absolutamente uma salada cultural ou algo que lembre um almanaque de referências, pois tudo vem embalado análise sempre arguta do autor. Sem dúvida, para ler e saborear, como só as grandes obras nos convidam a fazê-lo, mesmo para um ateu convicto como eu, que torce um pouco o nariz para alguns laivos deístas que ele, com certeza cristão, deixa escapar, apesar de todo o cuidado com os aspectos filosóficos dos temas religiosos que ele aborda.

Nenhum comentário:

Postar um comentário