O vento sabe o meu nome, Isabel Allende
Um romance escrito em estrutura de overlap: a autora conta a história da família Adler em Viena e depois a “esquece”, para nos falar de outras personagens, Leticia, Selena e Anita e, então, ele volta a falar dos Adler, agora para nos contar a história de Samuel e, assim, vão-se alternando as histórias, como num overlap de carros de corrida. Expliquemos: pense numa pista de carros. Cada vez que um carro passa pelo ponto de chegada, ele continua sua trajetória sem estar no campo de visão, mas continua em nossa imaginação. Sabemos que estão correndo, mas não sabemos em que condições. Cada vez que passa o número 1, por exemplo, recordamos os números 2, 3 e 4... Quando os elementos se intercalam (1...2...3...1...2...2...1 etc.), temos uma estrutura mais complexa de overlap. Dito isso, vamos a um breve resumo da história: os Adler são uma família judia em Viena, na famigerada “noite dos cristais”, quando a população de judeus é cruelmente perseguida e muitos são mortos. Só se salva o garoto, Samuel, enviado à Inglaterra, onde é criado como órfão. Ali ele cresce arredio, e se torna músico. Migra para os Estados Unidos, fascinado pelo jazz e casa-se com uma garota de “vida livre”, que lhe dá uma filha e um neto. Enquanto isso, Letícia tenta entrar nos Estado Unidos com sua filha de seis anos, Anita, fugida da violência de El Salvador, mas mãe e filha são separadas por uma nova política de migração, já no primeiro mandato de Trump. Selena Durán, uma jovem assistente social, se comove com a história garota e, com a ajuda de um advogado, Frank Angileri, tenta encontrar Leticia ou conseguir um visto de permanência nos Estados Unidos para a menina, quando, então, as vidas de todos os personagens vão-se entrelaçando até o final. Um tema, portanto, atualíssimo: a situação dos migrantes, incompreendidos e perseguidos por vários governos em todo o mundo, numa história humana e extremamente tocante, narrada com a sensibilidade e a maestria com que essa grande autora chilena nos brinda sempre em seus livros.

Nenhum comentário:
Postar um comentário