quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Nem sinal de asas, Marcela Dantés

 

Nem sinal de asas, Marcela Dantés



Há livros que se leem com o prazer de um dia de sol de verão na praia. Há livros que se leem com o aperto de emoções sofridas. Este o caso de “Nem sinal de asas”. Uma vida obscura, uma morte ainda mais obscura, como tantas vidas que existem por aí, que apenas passam pelo mundo, sem nada deixar a não ser breves rastros de sua trajetória, logo apagados pelo tempo. Solidão e sofrimento marcam a vida de Anja, filha de um negro e uma branca, que devia, se o desejo da mãe se realizasse, ter mascodo branca, mas nasceu negra. Odiava o nome e, por isso, dizia-se Angélica. O pai morreu cedo e mãe, alguns anos depois. O único amigo de infância a vida e as circunstâncias levaram a uma separação, coisa comum. Estudou enfermagem e foi cuidadora de idosos numa espécie de asilo. Alugou e depois comprou um apartamento num estranho edifício que fora antes um hotel. Ali viveu muitos anos em companhia de um gato. Ali morreu, sem que ninguém percebesse sua ausência, uma morte sofrida, solitária, como sua vida. Sem velório, sem ninguém que reclamasse seu corpo mumificado, encontrado pelo porteiro do prédio somente cinco anos depois! Sim, uma história que parece absurda, e é absurda, porque a vida é absurda, mas que nos provoca sentimentos e pensamentos que nos levam a perceber quão passageira e inútil pode ser a existência para tantos seres solitários e sofredores por esse mundo afora. Como disse no começo deste comentário, um livro para se ler com um aperto na garganta, graças à habilidade narrativa desta escritora mineira, Marcela Dantés.

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