1499: O Brasil antes de Cabral, Reinaldo José Lopes
O estilo “engraçadinho” do autor, de artigo de revista semanal, dá leveza à narrativa e, absolutamente, não impede que seja “sério” o livro, ou seja, temos uma leitura agradável de uma história complexa e pouco documentada: o Brasil antes da chegada dos portugueses. Nossos povos originários não desenvolveram a escrita, portanto só o que temos para levantar o “véu do mistério” (para usar um termo clichê) da vida, dos costumes e da própria existência das inúmeras etnias que povoavam o território brasileiro pré-cabralino é fruto de extensas e profundas pesquisas arqueológicas, etnográficas e linguísticas. Escrito em 2017, traz o autor as mais recentes novidades dessas pesquisas, num levantamento bastante minucioso do mapa das etnias indígenas. E são muitas as novidades. E são muitas as surpresas. Há indícios de que as civilizações primitivas (no sentido de antiguidade) são realmente muito antigas e, apesar de várias teorias, parece predominar as que contemplam que o povoamento das Américas começou em eras bem longínquas, com povos que vieram a partir da Eurásia, quando, no extremo Norte do planeta, os continentes europeu e americano ainda se ligavam através de uma estreita faixa de terra. As escavações em todo o território brasileiro, a partir da Amazônia até os sambaquis localizados no hoje estado de Santa Catarina, permitem-nos vislumbrar muito dos costumes desses povos, ainda que haja muita história a ser descoberta. Se não é possível individualizar ou nomear heróis, pode-se ter um retrato bastante próximo da realidade de cada etnia, com seus costumes e sua cultura. Ficamos sabendo, por exemplo, que a floresta amazônica teve vastas áreas cultivadas por povos nômades, que abriam clareiras e replantavam de forma consciente ou, às vezes, de forma casual, as espécies que lhes interessavam como alimento, no que vemos hoje como extensos bolsões de mata constituídos por uma única espécie ou por pouca variação vegetal. Ficamos sabendo, por exemplo, que as tribos, mesmo as de mesma etnia, não se reuniam nunca sob um único comando, não havendo, portanto, a constituição de “impérios” como os de outros povos da América, como os incas ou astecas. Enfim, muitos mistérios são esclarecidos, de uma forma realmente notável, com muita consistência, mas deixando para nós, os curiosos, o sentimento de que a pesquisa arqueológica, etnográfica e linguística de nossos povos originários ainda nos trará muitas outras surpresas. Para encerrar esse pequeno comentário, quero acrescentar que o autor traz, ao final, uma extensa bibliografia de autores brasileiros e estrangeiros que se debruçaram a estudar o Brasil antes de Cabral. E ainda: que é um livro que se lê com extremo prazer, com o gosto no final de “quero mais”.
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