A redoma de vidro, Sylvia Plath
Ao se matar aos 31 anos, em 1963, Sylvia Plath deixou uma consistente obra poética, de força confessional profunda e comovente. E um só romance, este “A redoma de vidro”, que revela uma prosa também consistente de uma escritora que teria um futuro promissor. Com pinceladas autobiográficas, narra a também breve trajetória de Esther Greenvood, uma jovem dos subúrbios de Boston que se deslumbra com um possível sucesso no mundo complexo de Nova Iorque, na redação de uma revista feminina e numa intensa vida social, num verão do pós-guerra, durante o governo de Eisenhower. Esse mundo deslumbrante de glamour e cobranças parece ser o gatilho que detona na jovem uma profunda depressão, que a leva a uma clínica psiquiátrica. Foi durante um verão de 1952 que a autora tentou o suicídio e também foi internada numa clínica psiquiátrica. Portanto, toda a vida da personagem a partir da internação reveste-se de uma verdade baseada numa dolorosa experiência. A protagonista vai aos poucos se distanciando da realidade, ao mesmo tempo em que vê a sociedade da época e seus valores com um olhar ao mesmo tempo amargo e crítico. Seu lento amadurecimento, na passagem da jovem inexperiente para a mulher que vai surgindo dos vários tratamentos a que se submete e das experiências, inclusive sexuais, vamos acompanhando com um misto de prazer e dor, resultante da prosa envolvente da autora. Não posso deixar de me referir, não como possibilidade de qualquer influência mútua, a outra narrativa semelhante, essa de uma autora brasileira, “O hospício é deus”, de Maura Lopes Cançado, também uma pungente história de depressão e internação psiquiátrica. Enfim, Sylvia Plath, neste livro, revela-nos apenas o dedo da grande romancista que poderia ter sido.