A promessa, Damon Galgut
Pretoria, África do Sul, final dos anos oitenta. Numa fazenda dessa cidade, Amor, uma criança de seis ou sete anos, ouve sua mãe, Rachel Swart, em seu leito de morte, pedir ao marido que prometa transferir à empregada negra Salome a posse da casa onde ela mora. Essa a promessa que vai acompanhar a saga da família Swart ao longo de toda a história dessa família branca, num país complexo e de mudanças radicais. E essas mudanças políticas e sociais são o pano de fundo de um drama pungente, em que a persistência e a resiliência de uma garota acompanha a decadência da propriedade, a morte de seu pai, depois a morte de sua irmã do meio, Astrid, e de seu irmão mais velho, Anton. O livro fala, de forma indireta, não só de uma nação que busca se reconstruir, depois de tantos traumas e de um regime segregacionista cruel e desumano, mas principalmente de relações familiares que se desgastam com o tempo, o que leva ao isolamento dos seus membros, a uma trajetória de frustrações de cada um deles, e, finalmente, à decadência das propriedades familiares e sua consequente bancarrota. Narrado num estilo vertiginoso, em que o leitor mal tem tempo para respirar, apesar de suas quase 400 páginas, é um livro que se lê com a atenção e o prazer das grandes obras literárias do século XX. Um narrador onisciente pula da narrativa de vida de uma personagem para outra sem que quase nos demos tempo de perceber que outra e outra trajetória de vida está sendo narrada – e são muitas, e interessantes, a personagens que aparecem a cada capítulo - , sem, no entanto, comprometer a estrutura literária, nesse mosaico de enredos impactantes, sempre, o que faz que a aventura de lê-lo se transforme num prazer, às vezes mórbido, pelas tantas mortes do livro, mas, sem dúvida, uma aventura extremamente prazerosa pela riqueza dos dramas desenvolvidos. Os eventos da política e da sociedade da África do Sul entrecortam a narrativa de uma forma quase sutil, a pontuar as três décadas de vida da família Swart, sem qualquer panfletarismo, marcando para o leitor a existência dos grandes problemas do país como a história que marcou um povo e cujo passado não tem volta, mas, quando a agora quarentona mulher que se chama Amor volta à sua terra, à casa de seus pais, e sobe no telhado, imitando um gesto de seu irmão, para espalhar suas cinzas, sabemos que ela nos dá um olhar também sutil, mas muito claro, de que um futuro melhor pode ser construído.