Nexus – uma breve história das redes de informação, da
Idade da Pedra à Inteligência Artificial, Yuval Noah Harari
A evolução do ser humano, desde há 100 mil anos, foi
construída a partir de significativas revoluções que geraram poder à humanidade
para construir o que hoje somos e que chamamos de civilização. O autor historia
a trajetória humana, mostrando como esse poder de modificar o mundo e reordenar
a vida de milhões ou bilhões de pessoas veio através de redes de informação, no
início precárias, quando a informação só podia fluir entre poucos humanos, em
agrupamentos mínimos ou aldeias com poucos habitantes, até chegar a nossos
dias, quando todo o mundo pode ser conectado através de uma única rede de comunicação.
O que distingue este momento das revoluções anteriores é que nenhuma rede de
informação – por exemplo, a constituída pela invenção da imprensa – tinha o
poder de modificar a si mesma e adquirir conhecimento por si mesma, como a
Inteligência Artificial. Um livro impresso não tem o poder de aprender ou de se
alterar, é apenas um veículo estanque. O problema é que comunicação, se é poder
ou gera poder, não significa que contém a verdade. A bíblia cristã, por
exemplo, foi o fruto de escolhas que mudaram a mentalidade humana: se os compiladores
tivessem escolhido outros livros, que continham outras informações ou outras
ideologias diferentes das que estão hoje nesse livro, outra poderia ser a
doutrina cristã. E mais: a bíblica cristã foi canonizada como verdade e mesmo
que contenha informações ou ideias e ideologias contraditórias que o tempo provou
serem inverdades e, às vezes, verdadeiros absurdos, ela não pode ser modificada,
pois é um livro sagrado. E isso vale para todos os demais cânones sagrados de
todas as demais religiões. Outras redes de comunicação, no entanto, puderam,
através da história, constituir formas ou maneiras de se autorregularem e de poderem
se alterar. Toda revolução trouxe para uma humanidade dois lados: o de
progresso e de desenvolvimento e outro de muita desinformação e até mesmo
muitas desgraças; as revoluções trouxeram o bem e também o mal. Criamos muitas
mitologias, para atingir objetivos nem sempre baseados na melhor escolha. No
entanto, pudemos nos livrar de muitos de seus males, porque seus sistemas de
informação não eram sagrados, podiam ser modificados. Agora, estamos diante de
uma revolução que pode trazer para a humanidade uma aurora de progresso inimaginável
ou lançá-la num processo de autodestruição sem precedentes, com a Inteligência
Artificial, um sistema de informação que tem a capacidade de se autogerir e
evoluir até a um ponto muito além de nossa capacidade de compreensão. Não há
catastrofismo nas advertências do autor, mas apenas o alerta de que precisamos não
nos deixar dominar por essa nova inteligência não humana que ameaça ou pode
ameaçar a própria existência da humanidade. Assim como no passado fizemos
nossas escolhas, precisamos de muita inteligência e criatividade humanas para
percebermos que a informação dessa poderosa rede de computadores não é a
matéria prima da verdade. Temos que impedir que episódios como a caça às
bruxas, como o nazismo e estalinismo sejam replicados por governos totalitários
ou usados por governantes populistas para nos escravizar ou nos levar para
caminhos de destruição e sofrimento, usando como arma essa fantástica criação
humana que é a Inteligência Artificial. Para isso, a humanidade precisa criar
regulamentos ou regramentos que não permitam ou tentem impedir o uso da IA de
forma indiscriminada ou para o mal. Enfim, um livro para se ler com os olhos no
passado e o pensamento no futuro, principalmente agora que estamos diante de ameaças
ainda maiores provocadas pelo aquecimento global, fruto de escolhas que o
capitalismo nos impingiu há séculos. A IA pode nos salvar, mas isso só depende
de nossas escolhas.