O Aleph, Jorge Luis Borges
Entre os maiores poetas e contistas da América Latina, sem dúvida se coloca o nome de Jorge Luis Borges. Lê-lo é um desafio e uma obrigação. Desafio porque seus contos – e “O Aleph”, que contém 17 contos, inclusive o que dá título ao livro – desafiam nossa imaginação ao fazer-nos mergulhar no mundo fantástico da criação literária, em que a filosofia, a história e a ficção se misturam, sem dar fôlego ao leitor, diante da imaginação sem limites do argentino. E é uma obrigação, porque nenhum apreciador da boa literatura pode prescindir das invenções literárias e da capacidade de manipular a realidade, num contexto em que cada conto desliza do real para contextos incomuns, ganhando significados extraordinário. Os motivos borgeanos recorrentes do tempo, do infinito, da imortalidade e da perplexidade metafísica jamais se perdem na pura abstração; ao contrário, ganham carnadura concreta nas tramas, nas imagens, na sintaxe, que também são capazes de resgatar uma profunda sondagem do processo histórico argentino. O livro se abre com "O imortal", onde temos a típica descoberta de um manuscrito que relatará as agruras da imortalidade. E se fecha com "O aleph", para o qual Borges deu a seguinte "explicação" em 1970: "O que a eternidade é para o tempo, o aleph é para o espaço". Como o narrador e o leitor vão descobrir, descrever essa ideia em termos convencionais é uma tarefa desafiadoramente impossível. Borges sendo Borges; melhor, impossível.