quarta-feira, 31 de março de 2021

A Casa da Vovó - Uma biografia do DOI-CODI (1969-1991), o centro de sequestro, tortura e morte da ditadura militar: histórias, documentos e depoimentos inéditos dos agentes do regime, Marcelo Godoy;

A Casa da Vovó , Marcelo Godoy


Se o título – A Casa da Vovó – sugere um conto de fadas ou um romance açucarado, o subtítulo entrega o verdadeiro significado e sentido do livro: “Uma biografia do DOI-CODI (1969-1991), o centro de sequestro, tortura e morte da ditadura militar: histórias, documentos e depoimentos inéditos dos agentes do regime”. Numa obra alentada por uma vasta documentação, realmente o autor vai até além do que se propõe: vai às origens do ovo da serpente, sua concepção “filosófico-teórica” e o aproveitamento das técnicas de tortura desenvolvidas por ocasião da guerra da Argélia, pelo exército francês, devidamente copiadas e aperfeiçoadas por nossos diligentes aprendizes, aqui e em outros países de nossa triste América de ditadores com sangue nos olhos e o poder nas mãos. Em seguida, descasca-se o ovo e traz à luz da verdade todo o serpentário da prisão, tortura e morte no centro de horrores criado no bairro central da cidade de São Paulo, durante o regime militar. Os cães de guerra – policiais militares a mando de oficiais do exército – não saíam às ruas para capturar opositores do regime militar, mas para caçá-los e matá-los impiedosamente, num dos capítulos mais negros de nossa história. Somente capturavam e prendiam aqueles de quem lhes interessava arrancar informações sobre os movimentos de esquerda. E essas informações só se obtinham com as mais variadas e terríveis formas de tortura, nas celas da famigerada “casa da vovó”, ou “açougue”, como também era chamada. Estão no livro todos os nomes de torturadores e torturados. Todos os mortos e desaparecidos. A porta do inferno está aberta a todos que desejem se informar sobre o verdadeiro horror escondido sob o tapete da ditadura militar durante os chamados “anos de chumbo”. O objetivo da tortura é desumanizar o torturado, para que ele, destroçado em sua identidade física e mental, delate seus companheiros e entregue informações. Mas, ao mesmo tempo, o torturador também se desumaniza, num sentido muito mais profundo, transformando-se em monstros sanguinários e vingativos. Na “guerra”, como foi caracterizado o período, há perdas de ambos os lados, mas o lado da força, o lado do policial militar desumanizado pela transformação do outro em inimigo a ser aniquilado a qualquer custo, deseja vingança a cada morte em suas fileiras e parte para a retaliação em que não é “olho por olho”, mas o maior número de mortos possível para cada baixa. Esse DNA está em nossa polícia militar até hoje, o que explica uma polícia que atira primeiro e pergunta depois, vendo em cada cidadão não uma ser humano igual a ele, mas uma possível ameaça ou um bandido. Defender os torturadores e seus comandantes da época da ditadura devia ser, hoje, crime de lesa-humanidade e todo indivíduo que tenha como ídolo um ser repelente como Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante da “casa da vovó” durante o período mais negro de sua história, devia ser considerado ou louco ou neonazista e jamais chegar ao posto máximo da Nação. Aos que defendem a volta dos militares para “pôr ordem na casa” deviam ler e reler esses depoimentos e relatos, para deixarem de pensar e defender tal estupidez. E os cretinos defensores da famigerada “autocrítica da esquerda” deviam estudar esse período, para tomarem consciência do processo por que passaram as hostes esquerdistas desse país. Não foram apenas presos, mas todas as lideranças foram exterminadas, todos os simpatizantes foram perseguidos, presos, torturados e expulsos do país. Fazer autocrítica de quê? Para dizer que a esquerda errou ao se deixar matar, ao se deixar prender, ao se deixar torturar, ao se deixar perseguir pelos cães ferozes da ditadura militar? Leiam, leiam A CASA DA VOVÓ todos os que sabem dos fatos, mas não de seus detalhes; todos os que desconfiavam, mas não tinham certeza da crueldade de nossos bravos militares; todos os que não viveram essa época, mas precisam conhecer como eram os tempos de seus pais e avós; leiam, enfim, todos aqueles que, por um momento de loucura ou estupidez, bateram panelas para pedir a volta dessa corja de monstros que atrasou o desenvolvimento de nosso país em muitas décadas, simplesmente com a mentira absurda e estúpida do medo do “perigo vermelho”. A nossa atual democracia, frágil ainda, está assentada sobre o sangue de milhões de brasileiros – não só os milhares de mortos e desaparecidos pelos vampiros da ditadura militar, mas também os milhões que foram jogados na sarjeta da miséria pelas políticas econômicas adotadas pelos militares, ao forjarem aquela mistificação que foi o “milagre econômico”. Milagre para as elites, que ficaram ainda mais poderosas e ricas, à custa do empobrecimento não só econômico, mas intelectual e mental de nossa população.


domingo, 28 de março de 2021

Na praia, Ian McEwan

 Na praia, Ian McEwan


Sempre que procuro uma boa história, bem estruturada, fácil de ler, mas que leva a questionamentos e nos revela personagens interessantes e profundos, procuro Ian McEwan. E este livro não nega fogo: na Inglaterra e em 1962, Edward Mayhew e Florence Ponting, ambos virgens, se instalam num hotel na praia de Chesil, perto do Canal da Mancha, para celebrar sua noite de núpcias. Ele é um rapaz recém-formado em história, de origem provinciana, sua mãe tem problemas mentais e o pai é professor secundário. A noiva é uma violinista promissora, líder de seu próprio quarteto de cordas, filha de um industrial e de uma professora universitária de Oxford. O desajeitado encontro íntimo desses dois jovens ainda marcados pelos resquícios da repressiva moral vitoriana pretende configurar uma tragicomédia de erros.

quinta-feira, 25 de março de 2021

A cultura no mundo líquido moderno, Zygmunt Bauman

A cultura no mundo líquido moderno, Zygmunt Bauman




Um dos mais brilhantes e influentes pensadores da atualidade, Zygmunt Bauman rememora os deslocamentos históricos do conceito de cultura e examina seu destino num mundo marcado pelas novas e poderosas forças da globalização, da migração e da coexistência bélica de populações. Em nossa era líquido-moderna, na qual todas as hierarquias se dissolvem e os indivíduos passam de produtores a consumidores, a cultura já não é humana, mas de grupos, de guetos, e a agenda contemporânea põe na ordem do dia temas como cidadania, direitos humanos e convivência. Contudo – alerta-nos Bauman -, mais que lutar pelos direitos da diferença, deveríamos nos empenhar pelo direito à igualdade.


segunda-feira, 22 de março de 2021

Orgulho e preconceito, Jane Austen

 Orgulho e preconceito, Jane Austen





Impossível ler esse livro sem lembrar LES PRÉCIEUSES RIDICULES, de Molière. A futilidade da sociedade inglesa do século XIX é retratada com sutileza, elegância e humor, na história das cinco irmãs Bennet loucas por achar um marido belo, charmoso e... rico. Embora essa busca alucinada pelo casamento esteja concentrada na divertidíssima Senhora Bennett, cuja falta de pejo e de traquejo social envergonharia qualquer donzela casadoira, o romance resgata com delicadeza principalmente a história da jovem e bela Elizabeth e seus desencontros e peripécias para chegar ao coração do riquíssimo Fitzwilliam Darcy, cujo jeito blasé é confundido desde o início com orgulho e preconceito em relação às classes mais desfavorecidas, às quais pertence a bela Lizzy e, por isso, sua não confessada paixão por ela leva-os a vários quiproquós. Sem dúvida, uma leitura leve e divertida, para ser acompanhada por um bom chocolate quente, em noites de inverno, ou por um bom sorvete em dias quentes. 


sexta-feira, 19 de março de 2021

Bom Crioulo, Adolfo Caminha

 Bom Crioulo, Adolfo Caminha



Tem o vezo e as características da escola realista-naturalista, do final do século XIX, com seu cientificismo e seus preconceitos, mas é o primeiro romance brasileiro a tratar abertamente do tema da homossexualidade, ainda vista como uma aberração da natureza ou, quando muito, como pecado. O autor tenta não ser preconceituoso, embora encontremos aqui e ali, ao longo da leitura, uma ou outra expressão que indique que a questão não está plenamente resolvida em sua cabeça. São pecadilhos diante da importância maior da obra. As condições de vida dos marinheiros e da própria população carioca durante o segundo reinado servem de fundo ao amor entre o ex-escravo e o grumete, uma paixão avassaladora que não vai chegar a um final feliz, não exatamente por terem cometido um pecado ou esse amor contrariar a natureza, mas por uma questão de determinismo quase biológico, dentro do pensamento da época. Pela coragem e pelo enredo em si, merece ser lido e mais conhecido, principalmente pela comunidade gay, que tem a seu dispor uma quantidade ainda muito incipiente de literatura de qualidade que aborde seus problemas, seus dilemas e seus sentimentos.


terça-feira, 16 de março de 2021

O homem que amava os cachorros, Leonardo Padura



O homem que amava os cachorros, Leonardo Padura




Um profundo mergulho na mente de um criminoso. Talvez seja essa uma das frases possíveis para definir esse livro longo, belo, complexo. O criminoso é Ramón Mercader, um espanhol que se passa por belga, treinado nos campos de fazer assassinos de Stalin. A vítima, Leon Trotski, o mais prolífico pensador marxista da Revolução Russa, o renegado a quem o stalinismo persegue como a um cão sarnento, através do mundo, assassinando cruelmente todos os seus principais seguidores, todos os membros de sua família, até chegar ao próprio Trotski, exilado no México, em 1940. Ao entrar na mente do assassino e buscar suas motivações, suas incertezas e sua formação no ódio, o autor coloca o dedo numa das chagas mais purulentas do século XX, o totalitarismo stalinista imposto à Rússia, depois da morte de Lenin, em 1924, um dos regimes mais cruéis que a humanidade já teve, por muitas décadas devidamente escondido atrás da cortina de ferro, escamoteado pelo silêncio de suas vítimas e da nossa incapacidade de conviver civilizadamente com a mais bela utopia criada pelo homem, para tirá-lo da barbárie da brutal diferença de classes: o socialismo. Que não está em xeque, na narrativa, mas sim o regime que se apossou de uma ideia para se impor totalitariamente, deixando o amargo gosto de um sonho que, graças a esse terrível desvio histórico, adiou talvez para sempre a esperança de dias melhores para a humanidade. Sem dúvida, continuamos a vislumbrar nossas utopias igualitárias, agora com o travo e a certeza de que, se os sonhos são sonhos, muitos homens que tentam realizá-los transformam-nos facilmente em pesadelos. Temos que enfrentar os monstros, para que a utopia não morra definitivamente, é o que parece me dizer esse extenso lamento de um fato histórico aqui romanceado de forma ao mesmo tempo com perícia e com brutalidade por esse autor cubano. Uma obra prima, com absoluta certeza.


sábado, 13 de março de 2021

A menina que roubava livros, Markus Zusak


A menina que roubava livros, Markus Zusak



Passado o estranhamento da descoberta de quem é a narradora da história, compreende-se o motivo de momentos de ironia e até um certo humor, que abrem brechas de alívio na tensão da trama. O livro As benevolentes, de Jonathan Littell, traz-nos a visão do mal sob o ponto de vista de um oficial nazista que, embora burocrata, determina, fiscaliza e ordena ações que nos dão a noção clara do que foi o terceiro reich por dentro. Já esse livro que comentamos – A menina que roubava livros – traz-nos uma outra visão da Alemanha durante o nazismo, como se os dois livros fossem as duas faces da mesma moeda, para usar o chavão clássico. Quando pensamos em Hitler, vêm-nos à mente os seis milhões de judeus que ele assassinou, mas devem também ser incluídos nessa conta os milhões de cidadãos de outros países – franceses, poloneses, ingleses, russos, estadunidenses etc., etc., etc. – e ainda os milhões de cidadãos alemães – nazistas ou não – que foram mortos, mutilados e sofreram consequências terríveis de sua política expansionista e totalitária. E esse livro trata exatamente do sofrimento de uma menina de nove anos que, no interior da Alemanha, viaja para uma pequena cidade perto de Munique para ser adotada, juntamente com seu irmão menor, por um casal de meia idade, ela, uma mulher mal humorada e que lhe dá surras constantes, mas que a ama, ele, um pintor de paredes e acordeonista sensível e protetor. Só a menina, no entanto, chega viva ao novo lar, o irmão morre durante a viagem. Essa história começa em 1939, e a menina que roubou seu primeiro livro durante os funerais do irmão cresce na rua da cidadezinha, jogando bola com os outros garotos, praticando pequenos furtos, numa vida de pobreza e fome que se agrava com a guerra. E a guerra trouxe também um visitante inesperado, um jovem judeu, filho do homem que salvou a vida do seu pai adotivo durante a primeira guerra, a quem eles acolhem e escondem no frio porão de sua casa. Uma história de dor e sofrimento, mas também de superação, que termina com uma frase da narradora: “Os seres humanos me assombram”. E essa frase só ganha todo o seu sentido se você souber quem é a narradora. E você só saberá quem é a narradora, se ler o livro. Uma última nota: Liesel Meminger, a menina que roubava livros, é uma personagem para levar para sempre na memória. Ela e o livro tornam-se, portanto, inesquecíveis.


quarta-feira, 10 de março de 2021

A Família de Pascual Duarte, Camilo José Cela

 A Família de Pascual Duarte, Camilo José Cela



Na década de 20, no interior da Espanha, Pascual Duarte, de dentro de um presídio escreve desesperadamente a sua história, a ser enviada para uma determinada pessoa, que quase nada descobre sobre sua vida, além do relato manuscrito. Nascido de uma família meio disfuncional, perdeu o pai violento ainda muito cedo. E também um irmão, ainda criança. Sua irmã, sobrevivente como ele, torna-se prostituta. Pascual casa-se e seu primeiro filho também morre aos onze meses. Mergulhado na pobreza e na violência, tem seu destino marcado pela tristeza e por uma revolta que se extravasa em ações que desvelam seu interior e seu lado negro e, ao mesmo tempo, humano, numa época que prenuncia tempos também negros para a Espanha. Lê-se com espanto e um pouco de desconforto a narrativa em primeira pessoa de Pascual Duarte, mas não se pode deixar de ver na obra a construção de um grande autor, tão grande que nos faz esquecer seu franquismo.


domingo, 7 de março de 2021

Crônica do Pássaro de Corda, Harumi Murakami

Crônica do Pássaro de Corda, Harumi Murakami




Tóquio, década de 1980. Toru Okada, trinta anos, desempregado, tem sua vida virada do avesso por acontecimentos banais que parecem insólitos e acontecimentos insólitos que parecem banais. Seu gato desaparece. Depois, sua mulher vai embora de casa. Descobre um poço seco num terreno de uma casa abandonada perto da sua, levado por uma adolescente revoltada de 16 anos. Dentro desse poço, uma vez, passa muito tempo, fechado na maior escuridão, já que a corda que ele usou para descer desapareceu, puxada pela adolescente. Quando finalmente consegue sair do poço, descobre que há uma mancha em seu rosto, do tamanho da mão de um bebê. Conhece duas irmãs de nomes estranhos que lhe prometem encontrar o gato; também conhece uma viúva rica e seu filho, que o transformam numa espécie de vidente na mansão construída no terreno onde fica o poço seco. Entre sonhos, pesadelos e realidades insólitas, um antigo combatente lhe conta histórias da guerra da Manchúria. O pássaro de corda cujo canto ele ouve da janela da sua casa e que parece dar corda ao mundo nos conduz, às vezes com dureza, às vezes com sutileza e poesia, para uma das mais estranhas e belas narrativas da literatura mundial. Um livro a ser lido com os olhos da magia e do encantamento, para fruir com prazer cada uma de suas surpresas.


sexta-feira, 5 de março de 2021

História universal da destruição dos livros - das tábuas sumérias à guerra do Iraque, Fernando Báez

História universal da destruição dos livros - das tábuas sumérias à guerra do Iraque, Fernando Báez


Assombro. É a palavra exata para definir a destruição de livros através da história. Pensamos nas guerras, nas catástrofes que matam milhares de seres humanos. Raramente nos damos conta da destruição da cultura através da destruição de livros. Desde as primeiras tentativas de registro na pedra, em tábuas de argila ou de madeira, na pele de animais até chegar ao papel, a destruição de livros que contam a história da humanidade tem tido uma trajetória de horror. Além dos fatores naturais, como enchentes, terremotos, incêndios, insetos etc., a destruição da cultura pelos humanos tem sido uma constante. Centenas de milhares de documentos perderam-se, por causa de guerras, de ódios e de incúria, em todos os momentos da História. O autor faz um registro exaustivo e minucioso de destruição de bibliotecas e de livros com precisão cirúrgica, mas não desprovida de emoção. Impossível não sentir a dor de pensar em quanto se perdeu, por exemplo, no incêndio criminoso da grande biblioteca de Alexandria. Mas, o ponto culminante do livro é quando ele narra o que aconteceu no Iraque, testemunha que foi da destruição da cultura de um povo cujo país contém a história da origem da civilização. Suas relíquias milenares bombardeadas, queimadas, pisoteadas, roubadas, vilipendiadas e vendidas a preço vil nos mercados internacionais de colecionadores, uma perda irreparável para a cultura mundial. Realmente, para quem gosta de livros, um relato dolorido, mas imperdível, de como a barbárie assola esse pobre planeta hoje e sempre, nas mãos de pessoas tão estúpidas.


segunda-feira, 1 de março de 2021

A elite do atraso: da escravidão à lava jato, Jessé Souza

 

A elite do atraso: da escravidão à lava jato, Jessé Souza


Que a lava jato é uma fraude construída com o apoio da mídia, rede Globo à frente, para demonizar o PT e esconder a verdadeira corrupção do mercado, isso eu já sabia - ou intuía. O golpismo dessa gente, no entanto, tem origem bem mais antiga, e aí está a novidade apresentada pelo autor. Fazendo uma análise profunda das origens do preconceito das elites e das classes médias contra o que ele chama provocativamente de ralé, a classe mais desprotegida e pobre, esmiúça e contrapõe as teorias equivocadas de nossa sociologia desde Gilberto Freyre, passando por Sérgio Buarque, Raimundo Faoro, Roberto da Mata, Fernando Henrique Cardoso etc., para afirmar que nosso estado não é patrimonialista, muito pelo contrário, mas padece do assalto contínuo das elites rentistas e sanguessugas que se encontram fora do Estado, mas dele se aproveitam para aumentar seu poder, empobrecer o povo e mantê-lo na ignorância e no regime de escravidão disfarçada em que ainda vive. Condenados como populistas, os governos de esquerda que ousaram chegar ao poder despertam em setores vitais das classes médias o ódio ao povo, à ralé, o mesmo ódio escravista do passado, nada tendo a ver com herança de Portugal, onde não houve escravidão. Talvez o mais profundo libelo contra a oligarquia dominante e a safadeza de amplos setores da sociedade, um livro imperdível para se entender a situação em que estamos. O país do futuro teve mais uma vez o seu futuro adiado por um golpe, que ele chama de “golgpeamchment”, contra não apenas as instituições, mas contra o povo que o apoiou ou a ele ficou indiferente e que já está sentindo na pele as consequências dessa canalhice.