A época da inocência, Edith Warton
Final do século XIX: Estados Unidos, mais precisamente Nova Iorque. Uma “nobreza” – com todas as aspas – vive uma vida de luxo, ociosidade, festas, bailes, óperas. Newland Archer, um desses representantes de uma das famílias “nobres “contrata matrimônio com May Welland, jovem também pertencente a uma ilustre família. As regras sociais são rígidas em todos os aspectos da vida dessa gente, regulando as relações entre as pessoas e todas as demais facetas do comportamento. Não há brechas para outsiders, a não ser que sejam extremamente ricos, mesmo assim, são vistos com desconfiança. Não é preciso enfatizar o conservadorismo dessa sociedade. Newland, no entanto, apaixona-se perdidamente por uma prima distante da esposa, a condessa Olenska, vinda da Europa, onde vivia há alguns anos, casada e fugindo do marido, para tentar um divórcio e uma nova vida na fechada sociedade novaiorquina. Somente o poder e o prestígio da família Welland, da noiva de Archer, para protegê-la e torná-la “palatável” aos rígidos costumes locais. A paixão entre ela e o noivo da prima, assim, não pode prosperar, seria um escândalo de tal proporção, que abalaria toda a sociedade. Então, é preciso que essa paixão não se realize. E é em torno desse triângulo falso, já que Archer está impedido por deveres e razões de honra de concretizar seu amor pela condessa, além de todo um aparato que se arma a seu redor, sem que ele perceba, é que gira toda a longa narrativa entretecida pela habilidade da escritora. Todos os detalhes, toda a vida fútil e sem perspectiva dessa sociedade é rigorosamente descrita, sem nenhum aparente juízo de valor. Que julgue o leitor. Um romance extraordinário, que se degusta desde a primeira página, lentamente, ao mesmo fogo brando com que se cozinha a paixão entre a condessa e Newland, desvendando a hipocrisia, a manipulação, os pequenos e grandes atos “inocentes” que escondem as mazelas dessa sociedade de transição para um novo tempo, para a sociedade industrial do século XX. A lembrar, ainda, que esse livro inspirou Martin Sorcese a realizar um de seus grandes filmes, com o mesmo título do livro.