terça-feira, 30 de agosto de 2022

As guerrilheiras, Monique Wittig

 As guerrilheiras, Monique Wittig


Não há nada de convencional, neste romance. Não tem enredo. Não tem personagens que carreguem uma história. Nem estrutura de romance ele tem. Pode causar muitas estranhezas e até, em alguns leitores, um certo desconforto. No entanto, eu li com prazer e deixei-me levar por sua linguagem. Porque seu grande mérito está nisto: uma linguagem poética e metafórica de grande beleza e que me envolveu do princípio ao fim. Acho (e talvez essa visão meio esquemática não seja a melhor) que se pode dividir o romance em duas partes. A primeira apresenta-nos quadros extáticos, poéticos, separados por uma lista de nomes femininos. Corpos, corpos e corpos. De mulheres, claro, pois se trata de um profundo, poético e atormentado manifesto feminista. Seios, pernas, braços, vulvas, reflexões. Pedaços de vidas, como refletidos em pedaços de espelhos partidos. Beleza pura. Sempre numa linguagem simples, porém simbólica e poética. A segunda parte, com a mesma divisão de quadros intercalados a lista de nomes femininos, já esses quadros ganham movimento: batalhas, sangue, ataques e defesas, vitórias e derrotas. Às vezes, o inimigo se rende à luta delas, das mulheres, às suas armas estranhas e às suas táticas ainda mais estranhas e complexas, e surgem cantos de guerra e cantos de vitória e cantos de liberdade. Ainda sempre a linguagem metafórica, poética. Sim, não é um livro fácil. Mergulhar em seus meandros exige entrega. Nem sempre compreendemos bem suas metáforas, já que isso exigiria mergulhar na exegese da linguagem da autora, que faz uma colagem de dezenas de autores de todas as épocas, para recriar lendas vistas sempre sob o ponto de vista masculino, para uma feminilização estilística e filosófica da luta das mulheres de todos os tempos pela libertação do jugo masculino, pela igualdade entre os sexos. Porque está nas entrelinhas e na linguagem poética e profética da autora, na beleza de um enredo que não existe a não ser que o leitor o crie em sua mente, esse manifesto, esse romance não-romance, é considerado um dos textos feministas mais lidos do século XX.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Crônica de uma morte anunciada, Gabriel García Marquez

 Crônica de uma morte anunciada, Gabriel García Marquez


Este é um livro que nos “pega” já na primeira linha: “Santiago Nasar irá morrer no dia após o casamento dos jovens Bayardo San Roman e Angela Vicário, que foi celebrado com uma festa grandiosa, em que o noivo não poupou recursos.” A partir daí, acompanhamos a reconstituição do assassinato de Santiago Nasar pelos irmãos gêmeos da noiva, devolvida à família porque não era mais virgem. Um crime passional, daqueles que lavam a honra de uma família. Todos na vila sabiam que os gêmeos açougueiros tinham em suas mãos as facas com que retalhariam Santiago Nasar, o jovem rico e conquistador. Ninguém conseguiu evitar o crime, mesmo os que chegaram a avisá-lo de que iria morrer. Há uma espécie de complô sórdido e inconsciente de machismo a perpassar toda a história e toda a reconstituição detalhada do brutal assassinato, feita por um narrador desconhecido, talvez o próprio escritor, mais de vinte anos depois do evento. Aliás, o tempo, para Gabi, entrelaça-se em passado, presente e futuro, sem fronteiras, na narrativa, de modo praticamente imperceptível: vivemos os instantes anteriores à morte no momento mesmo em que tudo ocorre, assim como relembramos com o narrador os fatos reconstituídos. O mais importante, talvez, de toda a tenebrosa narrativa: Santiago Nasar merecia morrer? Teria sido ele seduzido Angela Vicario, a jovem pobre que se casa com o filho milionário de um herói nacional, que ingenuamente revela ao marido, na noite de núpcias, que não era mais virgem? Ele foi acusado, mas a dúvida permanece, a deixar claro o conservadorismo de uma sociedade preconceituosa e até mesmo vingativa. Paremos por aqui, para não antecipar demais os fatos que o leitor vai descobrindo aos poucos, na envolvente prosa de um dos maiores escritores de nossa latinidade sul-americana.

sábado, 27 de agosto de 2022

Ficções do Interlúdio / 1 – Poemas completos de Alberto Caieiro

 Ficções do Interlúdio / 1 – Poemas completos de Alberto Caieiro


Dos heterônimos de Fernando Pessoa, Caieiro é o mais misterioso, em termos de filosofia, de pensar o mundo. Nega ser materialista, mas o é até o último fio de seus cabelos louros, mas que se acastanhavam, se faltava luz, na descrição de Álvaro de Campos. Ou talvez, não. Se você se lembra da emocionante declamação da Maria Bethânia de um de seus poemas – aquele, principalmente, em que fala de Jesus Cristo – esqueça. Não há nenhum sentimentalismo nele, apenas crítica ao cristianismo e ao próprio conceito de deus: “Diz-me muito mal de Deus. Diz que ele é um velho estúpido e doente, / sempre a escarrar no chão / e a dizer indecências”. O poema é um cântico a um certo humanismo, mas também aí escorregamos se dissermos que é ele humanista: tudo em sua poesia ressumbra a uma visão objetiva do mundo, extremamente objetiva. Para ele, as coisas são o que são no momento mesmo em que as vemos, pois serão outras quando a virmos de novo em outro momento, porque elas já se terão modificado, assim como nós já seremos outros. Complicado? Sim. A chave, talvez esteja nestes versos: “Sou um guardador de rebanhos. / O rebanho é os meus pensamentos / E os meus pensamentos são todos sensações”... Ser feliz, para Caieiro, é essa presentificação de tudo o que existe, de viver cada segundo como o definitivo, já que a natureza é o que é e nada se pode fazer para mudar tal realidade. Por isso, não tem percepção de sociedade nem de qualquer humanismo solidário. Não é, pois, um poeta humanista. Ler Caieiro é uma das experiências mais estranhas que podemos ter no mundo da poesia. Se, em Álvaro de Campos, por exemplo, identificamos um sentido filosófico de estranheza em relação ao mundo, de desconforto e desconfiança para com tudo, em Caieiro só encontramos a crítica à filosofia e ao pensar em tudo como tendo sentido, já que o sentido de tudo é não haver nenhum sentido: “Com filosofia não há árvores: há ideias apenas” e, quando se abre a janela, o que se pensou que fosse “nunca é o que se vê”. Sem dúvida, um poeta estranho, mas um grande, um enorme poeta, o mestre Alberto Caieiro.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Botchan, Natsumi Soseki



Botchan, Natsumi Soseki

Natsume Sōseki (9 de fevereiro de 1867 - 9 de dezembro de 1916), escritor e filósofo da era Meiji, é considerado um dos precursores ou fundadores da moderna literatura japonesa. Neste livro, Botchan (que significa pequeno mestre), narrado em primeira pessoa, conta a história de um jovem órfão irrequieto e transgressor, nascido em Tóquio, que se forma professor e é enviado a uma longínqua província do interior, para assumir o ensino de matemática de um grande e tradicional colégio. Sua visão irônica e quase irresponsável leva-o a ver a província como um lugar atrasado e seus colegas professores como pessoas fofoqueiras, mentirosas e falsas, que querem acabar com ele. Por isso, atribui-lhes apelidos como Porco-espinho, Texugo, Abóbora Verde, Camisa Vermelha... Alia-se a isso sua falta de traquejo para lidar não só seus colegas, como também com os alunos, que lhe pregam peças e o desmoralizam. Ironiza as tradições da cultura japonesa, fazendo pouco caso das gueixas, dizendo que haiku (ou haikai) é coisa de donos de barbearia, debocha da arte floral ikebana, que chama de coisa idiota etc. Enfim, ele também um bronco. Claro que, diante desse perfil como “pequeno mestre”, as coisas não vão dar certo. Tem, no entanto, um amor filial por uma antiga emprega da casa de seus pais, uma senhora idosa e descendente de família tradicional empobrecida. Essa afeição é que humaniza a personagem e torna-a menos agressiva. Concluindo, é um romance aparentemente simples, mas repleto de sutilezas que nos fazem pensar na própria condição humana, e até mesmo nos tempos atuais de tantas estranhezas entre as pessoas e, às vezes, tanto ódio sem qualquer motivo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Caderno proibido, Alba de Céspedes

 Caderno proibido, Alba de Céspedes


No dia 25 de novembro de 1950, Valeria, dona de casa e funcionária de um escritório de contabilidade, de 43 anos, casada há 24 anos com Michele, com um casal de filhos – Riccardo, de 22 anos e Mirella, de 20 – ao comprar cigarros para o marido numa tabacaria, tem o impulso irresistível de adquirir um caderno de capa preta, cuja venda é proibida aos domingos. Convence o vendedor a lhe vender o item e torna-o o seu diário proibido, ou seja, escondida da família, passa a registrar sua vida, seus pensamentos, suas dificuldades em relação ao marido e aos filhos, seus desejos e pensamentos mais recônditos. Entre esse 25 de novembro e 27 de maio de 1951, quando ela interrompe o diário e resolve queimá-lo, a filha começa uma relação com um homem mais velho e desquitado, para seu desespero de mulher conservadora, e sonha ir viver com ele em Milão; o filho sonha terminar os estudos e partir para a Argentina, em busca de oportunidade de vida, mas se apaixona por Marina; o marido sonha ver transformado em filme um roteiro que ele escreveu, para tirar a família das dificuldades financeiras; e, finalmente, Valeria enceta um romance quase platônico com o diretor da firma onde trabalha e sonha viajar com ele para Veneza. Tudo devidamente registrado em seu caderno proibido, cujas páginas ela preenche em horas tardias, para fugir da curiosidade da família. A dura realidade do dia a dia, a despersonalização feminina diante da dupla jornada de trabalho, o cansaço, as desilusões, os sonhos adiados e não realizados, o casamento transformado em rotina e sem qualquer resquício da paixão dos primeiros tempos, a ausência de perspectivas, tudo isso transforma a leitura de “Caderno Proibido” de uma literatura feminina para uma literatura feminista, na pena de uma das grandes escritoras italianas do século XX, inspiradora, inclusive, da “Série Napolitana”, de Elena Ferrante, já aqui comentada.


terça-feira, 16 de agosto de 2022

A origem do mundo - Jorge Edwards

 A origem do mundo, Jorge Edwards


O núcleo central dessa novela: um ciúme obsessivo. Patricio Illanes é médico, tem quase oitenta anos e é casado há quase trinta com uma mulher bem mais nova, Silvia. São chilenos e vivem exilados em Paris, depois do golpe militar de Pinochet, em 1973. Tem o casal um amigo íntimo, Felipe Diaz, de idade próxima à de Silvia, um boêmio e conquistador de mulheres por apenas um dia, além de crítico da esquerda dogmática. Um dia, Felipe Diaz é encontrado morto em seu apartamento. Suicídio. Ao abrir uma de suas gavetas “secretas”, Patricio encontra entre muitas fotos de suas amantes um retrato três por quatro de Silvia e uma foto de uma mulher de rosto coberto na mesma pose do quadro de Gustave Courbet, “A Origem do Mundo”, em exposição naquela época em Paris. Nasce no médico uma desconfiança, a de que sua mulher foi amante de Felipe Diaz, o que o leva a acreditar que a foto íntima da mulher de pernas abertas e mostrando a vagina seja ela. Obcecado por provar a traição, perambula pelas ruas de Paris, atrás de amigos e amantes do amigo morto, de forma patética e, às vezes, cômica e ridícula, para tentar arrancar deles qualquer informação que comprove sua suspeita. A história é quase toda narrada em primeira pessoa pela personagem do médico, num torvelinho de imagens e numa linguagem reiterativa que nos leva para dentro de sua mente. Há apenas dois “capítulos” (ou trechos, já que não há uma divisão clara de capítulos) em que o foco narrativo se modifica: um deles é o final do livro, quando a narração passa para Silvia, o que nos leva à surpreendente constatação de que o obsessivo ciúme de Patricio é o que o redime como homem. No posfácio, Mario Vargas Llosa escreve: “De todas as histórias que [Edwards] escreveu, esta é a que eu gosto mais, a mais divertida e inesperada, a de construção mais astuta.” Creio que não é necessário dizer mais nada, a não ser que estamos diante de um dos grandes escritores chilenos contemporâneos.


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

A mulher do próximo, Gay Talese

 A mulher do próximo, Gay Talese


Um retrato em branco e preto, e bem preto, do conservadorismo estadunidense, na pena de um brilhante escritor. Gay Talese expõe, neste livro, o que é “a alma podre e hipócrita” de uma sociedade formada sob os auspícios do puritanismo. Para uma parcela significativa – e influente – dessa sociedade, qualquer conduta sexual fora dos “padrões bíblicos” deve ser veementemente condenada, com prisão e multas pesas, embora matar negros e índios não seja sempre crime nem pecado, apenas defesa da branquitude e da expansão territorial. No entanto, até mesmo pastores com a bíblia na mão fundaram colônias de amor livre, desde o século XIX, como nos conta Gay Talese. E se o moralismo e o puritanismo exacerbado levaram a leis absurdas de perseguição a tudo que fosse erótico ou considerado pornográfico, de uma forma ou outra, muitos lutaram contra essas leis, mesmo à custa de prisão e perseguição, porque tinham consciência de que a famosa primeira emenda da Constituição, se fosse rasgada, levaria a que a perseguição se estendesse a outros campos da política e da própria sociedade, com sérios danos à liberdade de expressão. Tentar conceituar pornografia, como fizeram os juízes da Suprema Corte, para dar aval a condenações absurdas, foi o mote que percorreu todo o século XX, para combater revistas como Playboy e muitas outras, para proibir filmes e materiais considerados inadequados à consciência média da sociedade estadunidense, através de artifícios legais. No entanto, sob o manto do puritanismo – que quase sempre é hipócrita – muitos editores e produtores de material erótico, muitos criadores de clubes de sexo ou de clínicas de massagem erótica obtiveram significativas vitórias, mesmo sob a constante ameaça da volta de leis restritivas e absurdas. É essa luta, com detalhes jornalísticos, que o livro “A mulher do próximo”, relata de forma brilhante, dando nomes, detalhes biográficos e trajetórias de inúmeros homens e mulheres que não se deixaram intimidar pelos “velhinhos retrógrados” da Corte Suprema e pela perseguição implacável de “ligas de moralidade”, a fuçar e denunciar qualquer transgressão às normas escritas e estabelecidas por eles, quanto a sexo e formas de fornicação, como verdadeiros fiscais do corpo alheio e das práticas sexuais dos cidadãos. Não há muito sexo ou muitas descrições de orgias ou de invasão de intimidades no livro, somente o necessário, mas há muito da luta das pessoas e também muito de matéria sobre as lides em tribunais, em julgamentos históricos, nos quais muitos foram condenados, mas cada absolvição podia ser considerada uma vitória importante na defesa da liberdade de expressão e da liberdade sexual. O livro foi publicado em 1980 e foca, principalmente, as décadas de 60 e 70, mas, se fosse publicado hoje, com as devidas atualizações, ficaríamos estarrecidos com o fato de que as mesmas lutas daqueles anos se repetem hoje em um novo diapasão de tentativa de censura e de ameaças à liberdade de expressão, inaugurando um novo puritanismo plenamente em vigor, ainda que a sociedade – tanto estadunidense quanto mundial – tenha mudado. No entanto, os puritanos e moralistas estão ainda por aí a nos ameaçar a todo instante, recordando-nos a máxima de que o preço da liberdade é a eterna vigilância. “A mulher do próximo”: um livro atual e fundamental, ainda hoje, portanto.

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Ficções do Interlúdio / 4 – Poesias de Álvaro de Campos

Ficções do Interlúdio / 4 – Poesias de Álvaro de Campos



Álvaro de Campos é engenheiro, conforme sua “biografia” forjada por Fernando Pessoa. É o heterônimo “modernista” do poeta, em termos formais, já que seus poemas fogem ao rigor pessoano, para se esparramarem em versos alternadamente longos e curtos, sem métrica, sem rima, à Walt Whitman. Tem, no entanto, a alma atormentada dos existencialistas, talvez influência de Kierkegaard, antecipando a náusea do mundo, o cansaço do mundo, dos existencialistas franceses da década de 40 do século XX. Sua poesia confessional, centrada no eu, nesse eu lírico atormentado, reflete o mundo em termos filosóficos e metafísicos. Seus versos trazem a carga emocional de mil volts, sem dar ao leitor o descanso de amenidades. É sempre tenso. Tanto nos poemas mais curtos quanto nos poemas mais longos, em que o poeta-filósofo não se furta a lançar mão de todos os recursos de linguagem e tensão, para nos levar às profundezas de seu ser abissal. E desses abismos regressamos quase sempre sem fôlego. Nessas “Ficções do Interlúdio / 4” estão alguns de seus poemas mais famosos, como as duas Odes, Triunfal e Marítima; Lisbon Revisited, nas duas versões, a de 1923 e a de 1926; Tabacaria (talvez o seu poema mais emblemático e mais conhecido); Dobrada à moda do Porto; Poema em linha reta (“nunca conheci quem tivesse levado porrada / todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo”) e inúmeros outros poemas sem título, todos sempre tensos, todos sempre a nos trazer o espanto da vida, o cansaço da vida, com que o poeta nos mantém em alerta por todo o livro.


quinta-feira, 4 de agosto de 2022

As doenças do Brasil, Walter Hugo Mãe

 As doenças do Brasil, Walter Hugo Mãe


A história deste livro é uma fábula que trata da aproximação entre índios, brancos e negros, num tempo e espaço míticos do início da colonização. Para isso, o autor cria uma linguagem que cria a ficção ou uma ficção que cria uma linguagem. Não há propriamente invenções lexicais, como, por exemplo, em Guimarães Rosa, mas a ressignificação do léxico para criar um certo estranhamento e nos fazer viajar pela saga da aldeia fictícia dos abaeté e suas personagens de nomes metafóricos, a começar pelo protagonista, que recebe o sugestivo nome de Honra, um índio mestiço, nascido do estupro de sua mãe por um homem branco. Toda a fábula é contada, portanto, do ponto de vista de Honra, o jovem quase branco que a tribo incialmente estranha e rejeita. Como um herói trágico – no sentido grego do termo – tem uma vontade que se volta contra ele: encontrar e matar o branco que é seu pai, cujas feições a mãe reconhece nas feições do filho. Para tal, conta com a ajuda de outro adolescente, um negro que é capturado pela tribo, fugitivo do cativeiro. Depois de vencidas todas as desconfianças e de uma peripécia que os capacita como guerreiros (terem matado um branco na floresta e capturado sua arma), os dois jovens – Honra e Meio da Noite (o nome que a tribo dá ao negro) tornam-se amigos e partem para a jornada de vingança contra os brancos e a libertação dos escravos. Mas o encontro de Honra com o pai de sangue não tem o desfecho que ele exatamente desejava, o que irá justificar o nome que recebeu da tribo. Não é um livro fácil de ser lido – o que o próprio autor reconheceu numa entrevista na televisão –, já que a linguagem parece incialmente muito cifrada, mas logo que nos habituamos a ela, podemos acompanhar a saga de Honra e Meio da Noite com o prazer da descoberta a cada parágrafo de um mundo fabular e mítico que nos ajuda a compreender nossas origens.